O crime cibernético e o branqueamento de capitais são ameaças globais que têm impacto significativo em Portugal, especialmente devido à sofisticação de redes como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e ao uso crescente de inteligência artificial por cibercriminosos.

Estes crimes não apenas afetam a estabilidade financeira das empresas, mas também comprometem a segurança de dados sensíveis, expondo vulnerabilidades que podem ser exploradas por organizações criminosas.

Luís Narvion, COO da ABCR, aborda nesta entrevista os principais desafios enfrentados pelas empresas portuguesas e as soluções que a ABCR oferece para mitigar estes riscos, utilizando sua experiência consolidada no mercado brasileiro e ferramentas de cibersegurança de última geração.

 

O que é o PCC e de que forma atua no Brasil e Portugal?

Luís Narvion: PCC é a sigla de “Primeiro Comando da Capital”, organização criminosa criada no Estado de São Paulo por criminosos extremamente perigosos. Atualmente, comanda o crime no Brasil e é uma das maiores organizações criminosas das Américas, rivalizando com os grandes carteis colombianos e mexicanos. No Brasil são extremamente violentos.

Como especialistas no Brasil e em Brasileiros, podemos afirmar que o PCC se tornou num organismo forte, organizado, com hierarquia, contabilistas, budget, departamento jurídico, político e social. Uma grande corporação do mal.O poderio económico do PCC chegou a Portugal – como porta de entrada para a Europa – e isso tem sido amplamente difundido pelos meios de comunicação. Temo que a Europa não esteja preparada para lidar com tamanha organização criminosa.

O PCC está instalado em Portugal de forma silenciosa, focalizado no branqueamento de capitais e financiamento ao tráfico de entorpecentes.

 

  1. Luís, como impacta o crime cibernético e o branqueamento de capitais do PCC Portugal e as empresas portuguesas?

Luís Narvion: Portugal tornou-se um ponto estratégico para operações de branqueamento de capitais, especialmente devido às ligações do PCC, que utiliza métodos sofisticados para infiltrar sistemas financeiros e transferir recursos de maneira quase impercetível.

Ao mesmo tempo, o crime cibernético está a crescer de forma alarmante, com cibercriminosos a explorar ferramentas de inteligência artificial, como o WormGPT, para criar ataques mais sofisticados e personalizados.

As empresas portuguesas enfrentam um duplo desafio: por um lado, proteger as suas operações contra fraudes financeiras e, por outro, garantir que os seus dados e infraestruturas tecnológicas estejam seguros​.

  1. Como está o PCC a utilizar clubes de futebol portugueses para branqueamento de capitais, e quais são os riscos para as instituições portuguesas?

Luís Narvion: A maior organização criminosa do Brasil, o PCC, é suspeita de usar clubes de futebol portugueses como instrumentos para branqueamento de capitais. Este esquema envolve a injeção de fundos ilícitos em clubes menores, através de investimentos aparentemente legítimos, como patrocínios ou transferências de jogadores. Estas atividades não apenas comprometem a integridade do setor desportivo, mas também expõem instituições financeiras e comerciais a riscos reputacionais e legais.

A ABCR pode ser uma peça-chave na prevenção destes crimes, oferecendo auditorias financeiras específicas e sistemas de monitorização de transações para detetar movimentações suspeitas. Além disso, a sua experiência de cerca de 20 anos no mercado brasileiro permite mapear conexões entre entidades em ambos os países, fornecendo informações cruciais para mitigar esses riscos antes que se tornem incontroláveis​.

  1. Que estratégias específicas recomenda para empresas portuguesas que realizam negócios com entidades brasileiras suspeitas de ligação ao PCC?

Luís Narvion: Quando se trata de negócios entre Portugal e Brasil, especialmente em setores vulneráveis como o imobiliário e o desportivo, a ABCR recomenda uma abordagem preventiva e rigorosa.

Isto inclui a execução de processos de due diligence para verificar a origem de fundos e a análise detalhada de históricos de transações financeiras. Adicionalmente, ferramentas avançadas de monitorização, como análises de redes de vínculos, ajudam a identificar relações suspeitas entre pessoas e entidades associadas ao PCC.

Um exemplo prático é a implementação de políticas de compliance robustas em negócios transnacionais. Estas políticas garantem que todas as partes envolvidas operem dentro das normas legais, minimizando a exposição a esquemas de branqueamento de capitais​.

  1. Como pode a ABCR colaborar diretamente com autoridades portuguesas para desmantelar esquemas de branqueamento de capitais relacionados com o PCC?

Luís Narvion: Tendo em conta a nossa vasta experiência e conhecimenro da realidade brasileira, a colaboração entre a ABCR e as autoridades portuguesas pode incluir diversas opções. Desde o fornecimento de suporte técnico em investigações complexas, como análise de evidências digitais, até à monitorização de transações financeiras e identificação de redes criminosas.

A expertise da ABCR em investigações no Brasil permite uma atuação mais eficaz na compreensão de métodos utilizados pelo PCC, como o uso de empresas fictícias e operações cruzadas entre setores.

Por outro lado, a ABCR oferece formação especializada para equipas policiais e jurídicas, capacitando-as para enfrentar os desafios específicos do crime organizado transnacional.

Esta parceria não só facilita a identificação e interrupção de esquemas ilícitos, como também reforça a confiança nas instituições portuguesas perante o mercado internacional​.

  1. Como está a inteligência artificial a ser usada pelos cibercriminosos para aumentar a eficácia dos ataques?

Luís Narvion: A IA oferece aos criminosos cibernéticos uma vantagem estratégica. Tal permite-lhes automatizar ataques de phishing, criar mensagens convincentes e até mesmo explorar vulnerabilidades em sistemas de segurança com maior rapidez.

Ferramentas como o WormGPT, uma versão mal-intencionada do ChatGPT, estão a ser usadas para escrever e-mails fraudulentos e planear ciberataques complexos. A utilização destas tecnologias coloca as empresas sob constante ameaça, exigindo estratégias de defesa altamente adaptáveis​.

  1. Que exemplos pode destacar sobre como a ABCR ajuda a mitigar estes riscos a nível de crime cibernético?

Luís Narvion: A ABCR utiliza uma abordagem integrada para proteger as empresas portuguesas. Um exemplo é a aplicação de auditorias de segurança em sistemas de TI para identificar e corrigir vulnerabilidades antes que sejam exploradas por criminosos.

Além disso, podemos ajudado empresas a implementar a arquitetura Zero Trust, garantindo que apenas utilizadores autorizados possam aceder a sistemas sensíveis. No mercado financeiro, podemos colaborar com bancos para criar mecanismos robustos de deteção de atividades suspeitas, permitndo bloquear transações fraudulentas ligadas a redes criminosas como o PCC.

Um caso prático no Brasil envolveu a identificação de uma rede de branqueamento de capitais que utilizava empresas fictícias para movimentar fundos ilegais. A experiência da ABCR em investigações forenses e no mapeamento de vínculos foi fundamental para desmantelar essa operação.

Este know-how está agora disponível para empresas e autoridades portuguesas, reforçando a colaboração transatlântica na luta contra o crime financeiro​.

  1. Que recomendações dá às empresas portuguesas para se protegerem deste tipo de crimes cibernéticos?

Luís Narvion: As empresas devem adotar uma postura proativa e multifacetada para se protegerem de crimes cibernéticos e financeiros.

Isto inclui a implementação de autenticação multifator (MFA) em todos os sistemas, segmentação de redes através do Zero Trust e formação contínua de funcionários para identificar e responder a ameaças. Em segundo lugar, é crucial realizar auditorias regulares e utilizar ferramentas de IA defensivas para monitorar atividades suspeitas em tempo real.

Recomendamos também que as empresas invistam em soluções de compliance para garantir conformidade com regulamentações como o RGPD e o Cyber Resilience Act.

Estas medidas não só aumentam a segurança, mas também fortalecem a confiança dos clientes, que é um ativo essencial no mercado digital de hoje​.

  1. Como pode a ABCR colaborar com as autoridades judiciais para mitigar estas ameaças?

Luís Narvion: A ABCR possui vasta experiência no mercado brasileiro, um dos mais desafiantes em termos de crime cibernético e branqueamento de capitais. Essa expertise permite-nos oferecer suporte técnico e estratégico às autoridades portuguesas, desde a recolha de evidências digitais até à análise de redes criminosas. A nossa capacidade de mapear vínculos entre pessoas e ativos, utilizando ferramentas avançadas como o IBM i2, é um diferencial que pode acelerar investigações e levar a processos mais eficazes.

Adicionalmente, promovemos programas de formação para profissionais da área jurídica, ajudando-os a compreender as nuances de crimes digitais e financeiros.

Ao colaborar com a ABCR, as autoridades podem não apenas mitigar riscos imediatos, mas também desenvolver capacidades para enfrentar ameaças futuras de forma mais eficiente​.

  1. Uma última sugestão para empresas e instituições portuguesas.

Luís Narvion: O crime cibernético e o branqueamento de capitais são desafios globais, mas com as estratégias certas, podemos reduzir significativamente seus impactos.

Na ABCR, não apenas protegemos empresas, mas capacitamos instituições para enfrentar essas ameaças de forma proativa. A nossa experiência no mercado brasileiro e a nossa abordagem integrada de cibersegurança e compliance são ferramentas indispensáveis para quem busca segurança e competitividade no mercado atual.

Convido todas as empresas e autoridades a juntarem-se a nós nesta missão de construir um futuro mais seguro e resiliente.

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